LUDICIDADE, UMA CONSTATAÇÃO
Texto: Daniela Gomes
Hospitais modernos dispondo de ambientes mais acolhedores e alegres,
com brinquedotecas e palhaços integrando mais qualidade no tratamento de
pacientes, em que a saúde se comprova cada vez mais presente com o
riso, com o bem-estar psicoemocional e social das pessoas. Empresas de
ponta desenvolvendo programas de incentivo à criatividade de seus
colaboradores, com trabalho cooperativo em ambientes agradáveis e
motivadores, estimulando relações interpessoais saudáveis a gerar melhor
produtividade com qualidade de vida e trabalho de suas equipes. Escolas
e espaços educacionais inovadores com educadores e gestores
experimentando e propiciando uma aprendizagem prazerosa e estimulante,
em que pesquisa, descoberta e criatividade caminhem juntas, num ambiente
instigador. Organizações do terceiro setor investindo em programas de
educação não-formal a despertar o espírito lúdico e artístico de jovens e
crianças, adultos e terceira idade, como propulsores de atitudes de
auto-confiança e aperfeiçoamento pró-ativo dessas pessoas.
Esse é o quadro atual de apenas algumas das áreas em que a ludicidade
se mostra cada vez mais presente no desenvolvimento da atividade
humana, por sua comprovação científica de que ao estimular o estado
lúdico de uma pessoa, essa se torna mais feliz consigo mesma e por isso
mais sociável, mais disposta a lidar com desafios e ainda mais criativa
em sua atuação cotidiana.
O QUE É LUDICIDADE?
Concebemos por ludicidade o potencial inerente ao ser humano de estar
entregue ao momento presente de forma integral, conectando e
harmonizando pensamento, sentimento e ação. Sua vivência propicia uma
experiência que desconhece divisões e assim permite o prazer do processo
vivenciado, levando consequentemente a resultados mais amplos e
integrados. Na criança, um bom exemplo dessa expressão é quando esta
brinca livremente, altamente concentrada no que pensa, sente e faz. Já
num adulto, podemos visualizar tal potencial num ato de criação
artística ou mesmo numa atuação profissional em que o/a profissional se
entregue de ‘corpo e alma’ ao que faz. Assim, todos somos seres lúdicos
em essência – da criança ao idoso – podendo exercitar esse estado de
ludicidade em nosso cotidiano.
Ao longo de nossa caminhada perdemos, de certa forma, o contato com
esse estado essencial e criativo e então atualmente nos voltamos em
busca do mesmo. Essa busca fez da ludicidade um campo científico, com
autores e pesquisadores oriundos de diversas áreas como filosofia,
psicologia, antropologia, educação, saúde, área corporativa, dentre
outras. Desde disciplinas em cursos de graduação a pós-doutorados na
área, a ciência lúdica vem se intensificando nas últimas décadas e
comprovando que podemos avançar enquanto espécie humana ao expressarmos
nossa essência lúdica e criativa. Uma prova disso é que se mostra
atualmente como uma tendência amplamente reconhecida – o tema foi
matéria de capa da edição brasileira da Scientific American – Mente
& Cérebro – de janeiro/2011.
O CONTATO COM A LUDICIDADE ESTIMULA O POTENCIAL CRIATIVO
Certamente, já nos perguntamos por que quando somos criança em geral
nos sentimos muito mais criativos que quando adultos. Pesquisas recentes
constatam considerável decréscimo da expressão criativa à medida que
vamos amadurecendo. Entendemos criatividade como a habilidade de fazer
emergir novas possibilidades diante de situações diferenciadas ou
desafiadoras. Howard Gardner, pai da teoria das Inteligências Múltiplas,
em suas pesquisas sobre criatividade constatou que grandes gênios
criativos da humanidade possuíam um estado lúdico, que chamou de estado
de curiosidade pueril, de se fazer questionamentos aparentemente
estranhos, como: “Como deve ser viajar à velocidade da luz?”, usando a
imaginação. Einstein, por exemplo, se auto-intitulava como a pessoa mais
curiosa que ele conhecia. Assim, ludicidade e criatividade andam
juntas!
UMA LÓGICA LÚDICO-CRIATIVA É INCLUÍDA HOJE POR GRANDES ORGANIZAÇÕES VISIONÁRIAS
Empresas visionárias de ponta hoje funcionam incluindo uma lógica
lúdico-criativa em seu processos. Lembro agora de uma internacionalmente
reconhecida empresa de criação em design da Inglaterra, a Wolff Olins,
que atua diretamente no ramo da criatividade, e que estimula seus
colaboradores a desenvolver hobbies que gostam dentro da própria empresa
e assim reforçam o estímulo a seu potencial criativo: um deles fez um
teto verde cultivado no terraço da empresa, outro ministrava aulas de
arte macial que praticava, 1 vez na semana, para os demais
colaboradores, enfim, colaboradores que incorporavam o bem-estar gerado
por suas paixões à paixão de continuar criando no trabalho, não havendo
assim divisão entre trabalho e ludicidade, entendem? Posso também trazer
o exemplo de inúmeras empresas que têm buscado, aqui no Brasil, uma
espécie de T&D para seus colaboradores envolvendo processos
lúdico-criativos, como a Nestlé, Natura, Wolkswagen, dentre outras,
através de sérias empresas especializadas no ramo como a Uno&Verso,
de São Paulo. Diante disso, como profissionais podem desenvolver seu
potencial lúdico, se integrar a essas empresas visionárias e até mesmo
criar novas e também auxiliar tantas outras em transformação, se passam
sua vida por sistemas que inibem seu potencial criativo?
O POTENCIAL LÚDICO-CRIATIVO PODE SER DESENVOLVIDO
Huizinga, filósofo autor da obra HOMOLUDENS, afirma que somos seres
lúdicos em essência, carregando o jogo em nosso DNA cultural, ao longo
da humanidade. Entendemos ludicidade, como também afirmam Luckesi,
Maturana, dente outros, como um potencial interno, perceptível quando
experimentamos plenitude no que quer que façamos, seja no trabalho, no
lazer… Mas se nossa sociedade privilegiou qualidades lógicas e exatas em
detrimento das lúdicas-criativas, então agora que voltamos a
creditar-lhes sua devida importância ao lado das demais, precisamos de
caminhos para desenvolvê-las, certo? É aí que entra uma nova educação,
que integre nossas diferentes formas de interação com a realidade.
Escolas Inovadoras na atualidade investem no desenvolvimento do
potencial lúdico-criativo junto às crianças. Mas e o adulto? Será que
temos universitários, técnicos e demais profissionais acessando esse
desenvolvimento?
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