terça-feira, 22 de outubro de 2013

O que é Ludicidade?

 




LUDICIDADE, UMA CONSTATAÇÃO

Texto: Daniela Gomes

Hospitais modernos dispondo de ambientes mais acolhedores e alegres, com brinquedotecas e palhaços integrando mais qualidade no tratamento de pacientes, em que a saúde se comprova cada vez mais presente com o riso, com o bem-estar psicoemocional e social das pessoas. Empresas de ponta desenvolvendo programas de incentivo à criatividade de seus colaboradores, com trabalho cooperativo em ambientes agradáveis e motivadores, estimulando relações interpessoais saudáveis a gerar melhor produtividade com qualidade de vida e trabalho de suas equipes. Escolas e espaços educacionais inovadores com educadores e gestores experimentando e propiciando uma aprendizagem prazerosa e estimulante, em que pesquisa, descoberta e criatividade caminhem juntas, num ambiente instigador. Organizações do terceiro setor investindo em programas de educação não-formal a despertar o espírito lúdico e artístico de jovens e crianças, adultos e terceira idade, como propulsores de atitudes de auto-confiança e aperfeiçoamento pró-ativo dessas pessoas.

Esse é o quadro atual de apenas algumas das áreas em que a ludicidade se mostra cada vez mais presente no desenvolvimento da atividade humana, por sua comprovação científica de que ao estimular o estado lúdico de uma pessoa, essa se torna mais feliz consigo mesma e por isso mais sociável, mais disposta a lidar com desafios e ainda mais criativa em sua atuação cotidiana.


O QUE É LUDICIDADE?

Concebemos por ludicidade o potencial inerente ao ser humano de estar entregue ao momento presente de forma integral, conectando e harmonizando pensamento, sentimento e ação. Sua vivência propicia uma experiência que desconhece divisões e assim permite o prazer do processo vivenciado, levando consequentemente a resultados mais amplos e integrados. Na criança, um bom exemplo dessa expressão é quando esta brinca livremente, altamente concentrada no que pensa, sente e faz. Já num adulto, podemos visualizar tal potencial num ato de criação artística ou mesmo numa atuação profissional em que o/a profissional se entregue de ‘corpo e alma’ ao que faz. Assim, todos somos seres lúdicos em essência – da criança ao idoso – podendo exercitar esse estado de ludicidade em nosso cotidiano.

Ao longo de nossa caminhada perdemos, de certa forma, o contato com esse estado essencial e criativo e então atualmente nos voltamos em busca do mesmo. Essa busca fez da ludicidade um campo científico, com autores e pesquisadores oriundos de diversas áreas como filosofia, psicologia, antropologia, educação, saúde, área corporativa, dentre outras. Desde disciplinas em cursos de graduação a pós-doutorados na área, a ciência lúdica vem se intensificando nas últimas décadas e comprovando que podemos avançar enquanto espécie humana ao expressarmos nossa essência lúdica e criativa. Uma prova disso é que se mostra atualmente como uma tendência amplamente reconhecida – o tema foi matéria de capa da edição brasileira da Scientific American – Mente & Cérebro – de janeiro/2011.


O CONTATO COM A LUDICIDADE ESTIMULA O POTENCIAL CRIATIVO

Certamente, já nos perguntamos por que quando somos criança em geral nos sentimos muito mais criativos que quando adultos. Pesquisas recentes constatam considerável decréscimo da expressão criativa à medida que vamos amadurecendo. Entendemos criatividade como a habilidade de fazer emergir novas possibilidades diante de situações diferenciadas ou desafiadoras. Howard Gardner, pai da teoria das Inteligências Múltiplas, em suas pesquisas sobre criatividade constatou que grandes gênios criativos da humanidade possuíam um estado lúdico, que chamou de estado de curiosidade pueril, de se fazer questionamentos aparentemente estranhos, como: “Como deve ser viajar à velocidade da luz?”, usando a imaginação. Einstein, por exemplo, se auto-intitulava como a pessoa mais curiosa que ele conhecia. Assim, ludicidade e criatividade andam juntas!


UMA LÓGICA LÚDICO-CRIATIVA É INCLUÍDA HOJE POR GRANDES ORGANIZAÇÕES VISIONÁRIAS

Empresas visionárias de ponta hoje funcionam incluindo uma lógica lúdico-criativa em seu processos. Lembro agora de uma internacionalmente reconhecida empresa de criação em design da Inglaterra, a Wolff Olins, que atua diretamente no ramo da criatividade, e que estimula seus colaboradores a desenvolver hobbies que gostam dentro da própria empresa e assim reforçam o estímulo a seu potencial criativo: um deles fez um teto verde cultivado no terraço da empresa, outro ministrava aulas de arte macial que praticava, 1 vez na semana, para os demais colaboradores, enfim, colaboradores que incorporavam o bem-estar gerado por suas paixões à paixão de continuar criando no trabalho, não havendo assim divisão entre trabalho e ludicidade, entendem? Posso também trazer o exemplo de inúmeras empresas que têm buscado, aqui no Brasil, uma espécie de T&D para seus colaboradores envolvendo processos lúdico-criativos, como a Nestlé, Natura, Wolkswagen, dentre outras, através de sérias empresas especializadas no ramo como a Uno&Verso, de São Paulo. Diante disso, como profissionais podem desenvolver seu potencial lúdico, se integrar a essas empresas visionárias e até mesmo criar novas e também auxiliar tantas outras em transformação, se passam sua vida por sistemas que inibem seu potencial criativo?


O POTENCIAL LÚDICO-CRIATIVO PODE SER DESENVOLVIDO

Huizinga, filósofo autor da obra HOMOLUDENS, afirma que somos seres lúdicos em essência, carregando o jogo em nosso DNA cultural, ao longo da humanidade. Entendemos ludicidade, como também afirmam Luckesi, Maturana, dente outros, como um potencial interno, perceptível quando experimentamos plenitude no que quer que façamos, seja no trabalho, no lazer… Mas se nossa sociedade privilegiou qualidades lógicas e exatas em detrimento das lúdicas-criativas, então agora que voltamos a creditar-lhes sua devida importância ao lado das demais, precisamos de caminhos para desenvolvê-las, certo? É aí que entra uma nova educação, que integre nossas diferentes formas de interação com a realidade. Escolas Inovadoras na atualidade investem no desenvolvimento do potencial lúdico-criativo junto às crianças. Mas e o adulto? Será que temos universitários, técnicos e demais profissionais acessando esse desenvolvimento?

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